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Sementes da Informação – Poesia Preta

  • Foto do escritor: IPPÊ - Instituto Para periferias
    IPPÊ - Instituto Para periferias
  • 26 de nov.
  • 3 min de leitura

Mesmo com a Lei 10.639 de 2003, que estabelece a obrigatoriedade nas redes de ensino a temática da História e Cultura Afro-brasileira – uma conquista proporcionada pela luta dos movimentos negros – a ancestralidade africana e indígena ainda não são contempladas de forma ampla no ambiente escolar. 


Segundo o IBGE (2019), com o avanço das políticas públicas, os indicadores educacionais da população preta e parda entre 2016 e 2018 apresentou melhora, porém, a desvantagem em relação aos brancos ainda é evidente. Os índices sobre abandono escolar em relação os negros e negras são gritantes no ensino médio. Na pesquisa feita no mesmo dossiê “Desigualdades por cor e raça no Brasil” (2019), a taxa de conclusão do ensino médio é de apenas 61,8% para negros(as). Além dos problemas sociais, os alunos não se sentem representados no ambiente escolar. 

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Levando em conta que a colonização no âmbito do saber é vestígio de um longo processo de colonialidade, como fazer com que estes jovens tenham interesse no colégio? Este é um questionamento que podemos solucionar através dos movimentos periféricos. A cultura e as propostas feitas por militantes negros(as) podem ser uma forma de incentivar a identificação da juventude preta com o “ensino”, principalmente para a manutenção desses jovens nas escolas. 

Ao longo da história, podemos ver os movimentos negros como propagadores dos saberes construídos contra o racismo epistemológico. Não é em vão que Nilma Lino Gomes (2020) afirma que o “Movimento negro é um educador”, através dele tivemos avanços na construção de políticas públicas que combateram a educação bancária e a defenderam a equidade racial nas instituições de ensino como a Lei nº 12.711/2012, conhecida como Lei de Cotas.


Pensando nisto, numa educação antirracista e periférica,  quando ainda era  Coletivo Negro Waldir Onofre, O Instituto para Periferias - IPPÊ, confeccionou um livro com 60 poesias feitas por poetas negros(as) da Zona Oeste da cidade. Deste livro, foram feitos 250 exemplares físicos para serem distribuídos entre escolas públicas e instituições de tenham como eixo a educação. O material também pode ser baixado de forma gratuita aqui no site do IPPÊ.

Foram mapeados artistas de diferentes áreas da Zona Oeste entre favelas, quilombos urbanos e bairros periféricos, como: Bangu, Quilombo Dona Bilina (Rio da Prata), Santíssimo, Gardênia Azul (Jacarepaguá), Carobinha (Campo Grande), Barbante (Campo Grande), Comunidade do 77 (Padre Miguel), Vila Kennedy, Fumacê (Realengo), Santa Margarida (Campo Grande).

Para despertar o interesse dos alunos negros e periféricos, é preciso entender as vivências e a realidade na qual os mesmos se encontram. 


A poesia preta feita por pessoas periféricas pode acolher jovens e adultos com a mesma realidade social que os escritores. Precisamos estabelecer mecanismos para uma educação decolonial que inclua efetivamente a população negra e suburbana, valorizando seus conhecimentos. Paulo Freire (2018) – marginalizado pelo atual desgoverno – já alertava que a escuta descuidada das demandas do oprimido pode refletir o desejo do opressor, por isso a necessidade de uma escuta atenta e crítica para perceber as relações socioculturais no ambiente escolar.


A ideia do projeto “Poesia Preta: poetas negros(as) da Zona Oeste” é democratizar a cultura, criando a identificação entre o ensino e os estudantes periféricos. Cada vez mais, se tem feito debates sobre a inclusão de agendas locais para o desenvolvimento das políticas públicas nos territórios favelados e periféricos, que partem de iniciativas dos próprios moradores destes lugares. 


O IPPÊ é a favor do desenvolvimento de um material didático a partir das poesias periféricas. A linguagem dos poetas negros das periférias sobre as suas vivências estimulam o acolhimento e o pertencimento aos estudantes. Acreditamos que a chave para uma educação antirracista pode vir da arte dos poetas negros e negras. Não poderão arrancar dos movimentos locais o poder da resiliência e a memória da educação griot vinda dos nossos ancestrais.


 
 
 

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