Sementes da Informação: o retrato da cultura em Campo Grande
- IPPÊ - Instituto Para periferias
- há 7 dias
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O Sementes da Informação é uma metodologia criada pelo Instituto para Periferias (IPPÊ) para reunir, sistematizar e analisar dados sobre os territórios onde atua. Por meio dela, buscamos compreender realidades locais e fortalecer a luta por políticas públicas que reconheçam as potências e os desafios das periferias brasileiras.
Nesta edição, os dados foram coletados pela Agenda Campo Grande 2030, projeto que tem como objetivo construir caminhos de desenvolvimento sustentável e inclusivo a partir das vozes do território. O mapeamento ouviu 49 agentes, artistas e coletivos culturais de Campo Grande, o bairro mais populoso do Brasil, revelando um panorama rico e diverso sobre quem faz cultura na ponta.
O retrato encontrado mostra que 28,6% dos participantes têm entre 33 e 39 anos, 53% atuam há mais de cinco anos e 41% se autodeclaram pessoas pretas. Quase 60% dos grupos e artistas não possuem sede estruturada, e 64% nunca acessaram editais de fomento, o que evidencia a dificuldade de inserção no sistema formal de financiamento cultural. Esses dados revelam uma cena potente e resistente, mas ainda marcada pela ausência de políticas públicas estruturantes.
A pesquisa também identificou desafios que atravessam o cotidiano da produção cultural no território. Mais da metade dos entrevistados (53,1%) não consegue se manter financeiramente apenas com o trabalho na cultura, o que indica a precarização das condições de atuação. Além disso, há baixa inclusão de pessoas com deficiência, deterioração de prédios históricos e sítios arqueológicos, e uma carência de políticas públicas que cheguem de fato à base.
Diante desse cenário, a Agenda Campo Grande 2030 propõe um conjunto de ações concretas para fortalecer o setor cultural. Entre elas, estão a criação de um Canal de Transparência sobre os repasses de fomento, a promoção da educação patrimonial do território, a resinificação de espaços existentes como centros culturais, a formação e capacitação de fazedores e fazedoras de cultura e a elaboração de um calendário cultural permanente para o bairro.
Essas propostas transformam dados em instrumentos de mobilização social, mostrando como a informação pode gerar impacto direto na formulação de políticas públicas. Ao sistematizar e difundir esses dados, o Sementes da Informação fortalece a organização do segmento cultural e amplia as possibilidades de incidência das periferias nas decisões que moldam seu futuro.
Porque cultura é direito, é resistência e é também projeto de sociedade.
E Campo Grande, com toda sua força e criatividade, merece florescer.
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